Revivendo o Cangaço

Por CAROLINE LIMA
Historiadora/Pesquisadora
Coordenadora Acadêmica e Cultural do Seminário "CANGAÇO: HISTÓRIA E REVIVÊNCIAS"


O Seminário Cangaço Histórias e Revivências, não despertará apenas o estudo do cangaço, mas possibilitará avaliá-lo como fruto da economia do gado, suas noções de independência, leis, justiça e sua relação de cumplicidade com o coronelismo, podendo ampliar os conhecimentos sobre o período que marcou a nossa história entre a crise da República Velha e o início do Estado Novo (1920 – 1940).
Pesquisas e eventos como esse nos trás a tona a necessidade de se estudar como foi caracterizada a identidade do povo nordestino[1] a partir da trajetória de Lampião, Corisco, Jesuíno Brilhante, Maria Bonita e Dada, por uma elite intelectual urbana, ressaltando como funcionaram os tipos criados por esta para definir o nordestino em diversos espaços como no cinema e na literatura. Espaços como este contribuirá para o resgate de uma história e do papel do (a) sertanejo (a) como sujeitos históricos na construção do Brasil republicano.
Por ser uma atividade multimídia podemos discutir a imagem do cangaço e pesquisas sobre isso. Referente a isso a historiadora francesa da arte, Élise Jasmim[2], faz uma avaliação do cangaço e de seus líderes Lampião e Corisco tendo como fontes a literatura de Cordel e o Cinema Novo, que os heróificaram. Jasmim percebe na imagem uma arma utilizada pelos bandidos sociais. Segundo a autora, Lampião com os registros fotográficos e filmados mostra coesão do grupo e lança ao mundo, principalmente aos seus perseguidores, imagens de dignidade e uma postura de desafio.

Neste parâmetro de "clandestinidade exibida"[3] dos cangaceiros, podemos observar uma espécie de gênese da manipulação da imagem, por parte dos grupos – considerados criminosos. Da mesma forma que eles usavam este meio de comunicação para desafiar seus adversários - e mostrar que a vida levada por eles e elas tinha um sentido na qual o cangaço seria uma alternativa - as fotos das cabeças cortadas dos cangaceiros, na ótica desta iconografia, representavam uma resposta violenta às provocações de Lampião.
Se foram heróis ou bandidos, ou fruto de uma cultura da violência existente no Nordeste do inicio do século XIX, são debates a serem travados em espaços como o Seminário Cangaço História e Revivências.

[1] Ver: ALBUQUERQUE Jr. Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e Outras artes. 3a. ed. São Paulo/Recife: Cortez/Massangana, 2006.
[2] JASMIM, Elise; Le nordeste du brésil, une région malade du cangaço -Lampião: entrave a un projet de nation unie et civilisée; Francês; Português; Editora Universitária UFPE; Recife.BRASIL; 1; 28.
[3] Idem ibdem.

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